Certa vez uma família me procurou para as fotos do nascimento do seu bebê. Mas eles não queriam fotos com sangue. Em um primeiro momento, em rápidos 2 segundos, até cheguei a pensar que isso seria facilmente resolvido com fotos em preto e branco. Mas no mesmo instante tomei consciência que é inevitável falarmos de vida sem falar de SANGUE. Mesmo sendo fotos na qual sua cor vermelha tão viva e intensa não apareça, a marca dele estará lá. Seja vida chegando, seja vida indo, tudo tem sangue, tem fluído do que corre dentro de nós e nos mantém vivos.⠀
⠀Além de não fecharmos esse registro (por razões óbvias e por não ser meu estilo de trabalho), aquilo ficou ressoando como um grito: “Quando foi que a sociedade passou a enxergar isso com tanto asco, desprezo e aversão?”⠀
⠀Enquanto considerarmos sangue moralmente repugnante, será desafiador naturalizarmos os processos que envolvem a vida. Enquanto tratarmos ele como sujeira, como algo indesejável, como vergonha, estaremos nos distanciando cada vez mais do nosso modo instintivo de viver. As consequências desse afastamento são muito dolorosas, principalmente para nós, mulheres, que lidamos com ele por toda nossa vida – e que, infelizmente, somos conduzidas a escondê-lo e rejeitá-lo.
O nascimento tem o poder de nos permitir contar de diversas maneiras a história daquele dia, daquele momento. A mãe viveu uma história, assim como o pai e outras pessoas da família, e que é diferente do que os profissionais que estavam lá vivenciaram.
E tem ainda o olhar e a vivência que eu, a fotógrafa, trago para os registros através das minhas lentes e coração, e que é um pouco do que todos viveram naquele dia. Sou os olhos da mulher no momento mais exposto e vulnerável da sua vida.🤎
A fotografia de parto é um tipo único de fotografia, não se assemelha em nada com outros registos (ensaios ou eventos). Toque aqui e conheça mais sobre o REGISTRO DE PARTOS.
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